Rita Carvalho |
As vozes dos cientistas já tinham badalado as más notícias através dos seus relatórios. Inundações súbitas na Europa, fome e secas em África, menos neve na América do Norte e violentos fogos florestais na América Latina. Mas agora é a voz oficial das Nações Unidas a traçar os dramáticos cenários que podem advir das alterações climáticas. Só no Sul da Europa, em 2080, as cheias junto às costas marítimas vão pôr em risco mais 2,5 milhões de pessoas do que actualmente. As conclusões sobre o impacto regional das mudanças no clima só vão ser anunciadas no dia 6 de Abril, em Bruxelas. Mas ontem a agência Reuters antecipou alguns dados do relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas da ONU. E os riscos são transversais a todo o mundo, embora vão afectar de modo diferente as regiões do sul e do norte. Se nos países europeus do sul, como Portugal, as ondas de calor serão a maior ameaça à saúde das populações, que terão de enfrentar também o problema da escassez de água e o drama dos incêndios florestais, a norte, o aquecimento global e a diminuição do frio poderão trazer melhorias à produtividade florestal, às pescas e às colheitas agrícolas. Nesta região, haverá ainda um maior potencial hidroeléctrico. Mas em 2080 o maior problema dos países do sul serão as súbitas inundações, estimam os cientistas da ONU, avisando ainda que o risco se fará sobretudo sentir junto às zonas costeiras Noutros cantos do mundo, como a Ásia, o derretimento dos Himalaias provocará cheias e avalanches, colocando em risco os recursos hídricos. Mas o impacto da subida do nível do mar e do aumento da temperatura conduzirá também a tempos de seca, piorando a produtividade agrícola e agravando carências. A fome também será agudizada em África, com a falta de água a perturbar as colheitas e a reduzir a área agrícola disponível. A ONU estima ainda que, na América do Norte, neve menos e no Verão se agrave o problema das florestas, com mais fogos. A sul, na América Latina, a savana poderá substituir a floresta tropical da Amazónia, tornando zonas secas em terrenos desertificados. Nas zonas polares, continuará o degelo das calotes, com impactos graves ao nível da biovidersidade. |
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