Memórias de Adriano de Marguerite Yourcenar foi publicado pela primeira vez em França em 1951.
Autobiografia romanceada do imperador romano que viveu no século 2, baseada numa minuciosa pesquisa histórica. Yourcenar começou a escrever o livro em meados dos anos 20 e, depois de destruir várias versões do texto, publicou-o em 1951, com sucesso absoluto. Adriano é retratado como o governante ideal: cultor do classicismo grego, protetor das artes e político preocupado com vida dos escravos.
«Trata-se de um livro que parece ser, numa primeira impressão, "difícil": a escrita faz-se na primeira pessoa, com o Imperador Adriano, ele próprio, vagueando pelas suas memórias. Mas logo que se faça a adaptação ao estilo da autora, sem pré-aviso, começa-se a ficar envolvido na teia e, subitamente, quase magicamente, já estamos a sentir e a viver os tempos de Adriano. As suas viagens à volta do Império, os seus sentimentos para com os seus amigos e inimigos, a intrigazinha palaciana da sua corte, os seus pensamentos políticos e filosóficos sobre Roma e os Romanos, sobre os povos da Ásia Menor e do Egito, sobre os bárbaros do Norte, as suas campanhas militares, tudo parece estar a acontecer e fazer parte da própria vida do leitor. É considerada uma peça de escrita fabulosa e única!
E sim, o drama da paixão de Adriano pelo jovem Antinoo está lá toda, maravilhosa, apaixonada, dolorosa, pungente, emocionante...»
(Texto da Vikipédia e com o qual comungo inteiramente a opinião)
Com pensamentos como estes que nos fazem reflectir:
«Não existindo já os Deuses e não existindo ainda Cristo, houve, de Cícero a Marco Aurélio, um momento único em que só existiu o homem.»
«Como toda gente, só disponho de três meios para avaliar a existência humana: o estudo de nós próprios, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; a observação dos homens, que na maior parte dos casos fazem tudo para nos esconder os seus segredos ou de nos convencer que os têm; os livros, com os erros particulares de perspectiva que nascem entre as suas linhas."»
«... o gráfico de uma vida humana, que se não compõe, digam o que disserem, de uma horizontal e duas perpendiculares, mas sim de três linhas sinuosas, prolongadas no infinito, incessantemente aproximadas e divergindo sem cessar: o que o homem julgou ser, o que ele quis ser e o que ele foi.»
«Mas a mais longa dedicatória é ainda uma forma demasiado incompleta e banal de honrar uma amizade tão pouco comum.»
«Cada um de nós tem mais virtudes do que os outros supõem, mas só o êxito as torna notórias, talvez porque se espera então que deixemos de as praticar.»
«Quando se tiver diminuído o mais possível as servidões inúteis, evitado as desgraças desnecessárias, continuará a haver sempre, para manter vivas as virtudes heróicas do homem, a longa série de verdadeiros males, a morte, a velhice, as doenças incuráveis, o amor não correspondido, a amizade recusada ou traída, a mediocridade de uma vida menos vasta que os nossos projectos e mais enevoada que os nossos sonhos: todas as infelicidades causadas pela divina natureza das coisas.»
«Duvido de que toda a filosofia do mundo consiga suprimir a escravatura: o mias que poderá suceder é mudarem-lhe o nome.»
«A fraqueza das mulheres, ..., resiste à sua condição legal: a sua força vinga-se nas pequenas coisas em que o poder que elas exercem é quase ilimitado. Rramente vi um interior de uma casa onde as mulheres não reinassem.»
«Uma parte dos nossos males provém de haver demasiados homens excessivamente ricos ou desesperadamente pobres.»
«A maior parte dos nossos ricos faz enormes donativos ... .
Muitos agem assim por interesse, alguns por virtude; quase todos ganham com isso.»
« ...não será a alma apenas o supremo resultado do corpo, frágil manifestação da dor e do prazer de existir?»
«Natura deficit, fortuna mutatur, deus omnia cernit.
A natureza trai-nos, a sorte muda, um deus vê do alto todas estas coisas.»
Este livro foi-me ofertado por alguém muito especial, que continua e continuará sempre, a ser detentor de um cantinho dos meus pensamentos, com a seguinte dedicatória:
«Olha que engraçado. Parece que este livro estava mesmo guardado para ti. Fui a duas livrarias, uma próxima da outra. Na primeira disseram-me logo que este livro estava esgotado. Saí sem muita discussão, e dirigi-me imediatamente para a segunda pois, não sei porque, tive um feeling de que iria encontrá-lo.
Nesta, ao entrar, se encontrava cheia mas percebi que a minha presença fez-se logo sentida. Como os olhares voltaram-se para mim, aproveitei este prelúdio para perguntar se tinham o livro em questão. A resosta de uma das funcionárias soou-me como um presságio:
- Penso que tenho um exemplar que foi guardado para um cliente.-ripostou a rapariga.
Como estava muito ocupada, disse-lhe que iria dar uma volta e que não tardaria o meu regresso. Após esta pausa, suficinet para o desanuviamento da livraria, regressei em busca do que (me) te estava destinado. Assim trouxe este único exemplar que, apesar de ter sido guardado para outra pessoa, pareceu-me tê-lo sido para ti.
Acredito que nas tuas mãos estará mais adequado.
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"Para ser grande, sê inteiro:nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive."
Fernando Pessoa
Passados 16 anos da mesma, penso não estar a desvendar segredo algum.
Com isto mostro o quão importante é a dedicatória e o dedicar-se um livro a alguém que se estima verdadeiramente!
A memória permanece sempre viva!
. "Memórias de Adriano" de ...