O caminho português para a saída da crise
A crise financeira internacional rebentou há oito meses e não tem fim à vista. As sucessivas revisões em baixa do FMI, sobretudo da economia norte-americana, mas também na Europa, atestam uma realidade em constante mutação e crescente incerteza. Agora, o FMI alarga o impacto negativo da crise ao consumo, em geral, muito para além do sector imobiliário, estimando que as perdas globais se deverão cifrar nos 945 mil milhões de dólares, mais do triplo do valor já assumido pelo sector financeiro internacional. Esta análise negra centra-se nos EUA, que deverão ter de passar por uma recessão, embora já se ouçam vozes a afirmar que ela será muito curta, podendo dar-se a viragem ainda em 2008.
A banca alemã e o próprio FMI não estão tão seguros disso, mas todos parecem coincidir na previsão de que a Europa tem uma economia mais robusta e sofrerá menos.
Por cá, Vítor Constâncio diz-nos que a economia portuguesa sofrerá um impacto negativo, mas inferior ao dos seus parceiros europeus. Se o PIB do País, segundo o governador do Banco de Portugal, deverá ser inferior à sua anterior previsão de 2%, mas superior à europeia, então será de 1,8%/1,9% - na prática, o mesmo impulso de crescimento de 2007. O importante não é, assim, repetir até à exaustão que "vem aí a crise!". O que importa a quem fala em nome das empresas, do trabalho ou do Governo é definir com maior precisão e clareza aquilo que tem de ser feito sem demora para que a economia nacional saia desta crise mais forte e mais capaz de crescer acima da média europeia.
Se antes da abertura dos Jogos Olímpicos (JO) a tocha olímpica se passeia entre os povos para apelar à convivência fraterna, ela a viajar em carro blindado é uma contradição nos termos. Mas a violência em Paris e Londres não pode ser só imputada à cabeça quente dos manifestantes. Estes insurgem-se contra a falta de liberdade no Tibete e têm muitas razões para isso. Mas, seguramente, a esmagadora maioria da opinião pública não se revê numa das reivindicações dos manifestantes: o boicote aos JO de Pequim. Nem a maior autoridade moral neste assunto, o Dalai Lama.
Tal como a democracia, na frase definitiva de Churchill, é o pior dos regimes, se excluirmos os outros todos, os JO, com todos os seus defeitos, é a manifestação desportiva mundial que melhor faz os povos competir pela melhor das razões: emular-se, respeitando os outros. O importante é participar, como disse o barão Pierre de Coubertin. Tirando lições da já longa vida dos JO modernos: participar, apesar de tudo... Lembra-se aqui a mais extraordinária lição que eles já deram: na Berlim nazi, um negro (Jesse Owens), com quatro medalhas de ouro, destruiu as tolices de superioridade e inferioridade entre as raças. Felizmente, não houve boicote aos Jogos de 1936.